sábado, 16 de junho de 2012

Globalização não respeita a Amazônia



Foto: National Geographic Brasil
A Conferência da ONU para o desenvolvimento e o meio ambiente – a Rio+20 – será, de certa forma, palco para ideias divergentes a respeito dos novos conceitos que envolvem sustentabilidade. O Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) critica o que chama de falsas soluções apresentadas pela ‘globalização capitalista’ que, segundo a entidade, favorecem a expansão do capital na exploração acelerada dos bens comuns. Segundo o FAOR, seria um novo movimento do capital se manifestando em dois planos. Primeiro na busca de apropriação e mercantilização de novos espaços territoriais (solos, subsolos, fundos marinhos, éter) e de novos domínios (biodiversidade, ecossistemas, corpo humano, culturas, conhecimentos). “No caso da (Pan)Amazônia, a violência a que são submetidas as populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas, agricultores(as) familiares, remanescentes de quilombos não é algo contingencial, ou seja, não é exceção à regra, mas a regra em si mesma. É preciso expropriá-las, expulsá-las ou confiná-las em espaços bem delimitados para que as terras da Amazônia possam ser transacionadas no mercado, vendidas e compradas”, diz Aldalice Otterloo, coordenadora do Fórum.
O FAOR é uma rede que engloba várias organizações sociais. No dia 29 de março de 2012, realizou uma conferência visando discutir a participação na Rio+20. O encontro gerou uma carta com o posicionamento das entidades diante dos temas propostos na conferência do Rio de Janeiro. Segundo o documento, a maneira sofisticada nessa etapa de globalização para garantir ao grande capital – o acesso, uso e controle de vastos territórios da Amazônia – é o mercado de carbono. De acordo com o FAOR, esse tipo de negócio permitirá às corporações econômicas e aos estados nacionais mais poderosos (Estados Unidos, China, França, Alemanha, Japão e outros) negociarem o direito de poluir a atmosfera, pagando aos demais países por esse direito através da compra de títulos na bolsa de valores. “É a carbonificação da economia ou a financeirização da natureza. A ideia é proporcionar imensos lucros às corporações e seus estados com a crise ambiental. É isso mesmo: a crise ambiental se transformou numa mercadoria valiosa, mesmo que isto venha agravar os riscos a nossa própria existência enquanto espécie”, diz a coordenadora.
De acordo com a carta da Conferência, na Amazônia muitas empresas (nacionais e estrangeiras) “buscam freneticamente estabelecer acordos comerciais com povos indígenas através de contratos. Quando lemos tais contratos, vemos com clareza que o objetivo é garantir aos conglomerados econômicos o controle dessas áreas, de sua biodiversidade; enquanto que às comunidades se pretende repassar recursos que nem de perto se aproximam dos lucros que serão obtidos pelas empresas”.



O documento diz ainda que, em relação às cidades da Amazônia brasileira, a grande maioria encontra-se alijada de muitas políticas governamentais em execução no país. “Isto porque a política urbana contempla usualmente as grandes cidades ou aquelas integrantes de regiões metropolitanas. As pequenas e médias cidades são excluídas ou secundarizadas, privando suas populações do acesso aos bens, serviços e equipamentos públicos importantes para garantir boa qualidade de vida dos habitantes”, explica a carta. “As populações da Amazônia possuem diversos modos de vida, uma economia centrada nas pessoas e não no capital, formas coletivas de apropriação, uso e gestão de seus territórios, tecnologias de produção agroecológicas e um saber que compartilha a sobrevivência dos ecossistemas com a segurança alimentar e cultural dos povos que vivem neles e deles”, destaca a coordenadora do FAOR. 



Fonte: DOL - Diário do Pará
Publicado em: 04 jun 2012

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