terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Bragança, a pérola do Caeté: um pedaço diferente da Amazônia.

Talvez nem todos a conheçam pessoalmente, mas muitos paraenses já ouviram alguma referência sobre a cidade de Bragança, localizada na região do salgado ou, segundo a classificação da Paratur, no polo Amazônia Atlântica, no Pará.
A cidade é famosa por produzir a melhor farinha de mandioca do estado, opinião de várias pessoas. É um dos destinos mais procurados na época do veraneiro. A praia de Ajuruteua, distante 30 minutos de carro da sede do município, é uma das mais procuradas pelos veranistas.
Neste post vamos nos ater naquilo que a maioria das pessoas não conhecem. Há na cidade as chamadas “Reservas Extrativistas” conhecidas pela sigla RESEX. Entre 18 e 20 de janeiro de 2013, os alunos da Faculdades de Turismo da Universidade Federal do Pará fizeram uma prática de campo em algumas localidades dentro da Reserva Extrativista Marinha do Caeté-Taperaçu.
As resex são Unidades de Conservação (as chamadas UC) pertencentes ao grupo das unidades de uso sustentável. De acordo com a lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), uma resex é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
Nesta visita os discentes puderam comprovar o quanto o bioma amazônico é diversificado. Áreas de mangue, terreno arenoso e campos (os chamados campos bragantinos) são uma amostra do que a natureza tem para nos mostrar.
Na Vila Bonifácio, a caminho de Ajuruteua, os moradores vivem basicamente da pesca. Casas de madeira, coloridas (algumas em alvenaria) e ruas de areia
compõem o lugar. O modo simples de viver contrasta com as diversas antenas parabólicas vistas em várias dessas casas. De todas as comunidades visitadas, esta é a que pareceu ser melhor assistida pelo poder público. Claro que a vila possui suas dificuldades. A principal reclamação dos moradores é quanto à água, que não é de boa qualidade.
A Fazendinha é outra comunidade visitada pelos estudantes. A maioria vive da fabricação de telhas e tijolos. No entanto os estudantes visitaram um local que fabrica artesanato, como vasos, luminárias, peças de decoração, entre outras peças. O artesanato de Bragança possui uma característica única no estado do Pará. Pra começar, é feita com um tipo de barro branco que, segundo o Sr. Antônio, dono da olaria, só existe na região de Bragança (único lugar no estado inteiro). Para dar cor a algum detalhe da peça, ele usa barros de outras tonalidades que, conforme a peça vai assando, o detalhe fica de cor terracota ou cinza, criando um resultado muito bonito. O Sr. Antônio utiliza um tipo de semente para criar gravuras que diferencia suas peças das cerâmicas marajorara e tapajônica, criando um resultado único, próprio dos bragantinos.
Apesar disso as condições da vila não são favoráveis. Faltam serviços básicos, como postos médico, transporte público regular e segurança pública.
A vila de Tamatateua é onde ficam localizados os campos bragantinos. Lá a economia é bastante diversificada. Nesta comunidade a população vive do pescado, coleta do caranguejo, turu (para consumo próprio) farinha, mel, camarão, mexilhão, entre outras atividades de subsistência. Foi a primeira localidade a receber o programa "Luz para Todos" do Governo Federal. apesar disso, muitos ainda nãoo possuem energia elétrica em casa.
A Vila-Que-Era guarda um pedaço importante da história não só do município, mas da Amazônia no que tange à ocupação de seu território pelos europeus. A origem de Bragança está no local onde hoje fica a vila. Posteriormente a sede do município foi
transferida para o outro lado do rio Caeté. Ao contrário do que se possa imaginar, a cidade não foi fundada por portugueses, e sim por franceses liderados por Daniel de La Touche, que chegaram a região do Caeté em 8 de julho de 1613. Até hoje moradores encontram vestígios daquela época, como peças de cerâmicas, moedas, porcelana. Sinal de que ali deva existir um importante sítio arqueológico.
Mesmo algumas comunidades sendo um tanto isoladas, nota-se a degradação que a ação do homem provoca na natureza. A começar pela estrada asfaltada que leva a Ajuruteua. Apesar de ter encurtado o tempo e a distância entre a sede do município e a praia, não se levou em conta o impacto que o asfalto trouxe para o mangue existente. Para quem vai em direção à praia, nota-se que ao lado
direito vemos o mangue com vida, com aquela umidade característica. Do outro lado da pista, exatamente o contrario, seco, sem vida, devido o asfalto ter interrompido a ligação de um lado a outro, impedindo que a agua salobra chegasse até aquele ponto, tão essencial para manter o mangue vivo.
Felizmente há muitos moradores que se preocupam com ambiente onde vivem. Por viverem do extrativismo, eles têm consciência de que, se não tomarem cuidado em utilizar, com parcimônia, os recursos que a terra e o mangue oferecem, talvez não tenham de onde tirar seu sustento no futuro . Sendo que os objetivos básicos de uma resex é proteger os meios de vida e a cultura dessas populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade, uma semente está sendo plantada nessas comunidades. Esperamos sinceramente que ela dê frutos para que não venha a acontecer com elas o mesmo que ocorreu com o mangue à margem esquerda da estrada em direção à praia.






Texto: Maykon Serrão (Yud Amazônia)
Crédito das Imagens: Vista de Bragança e do Rio Caeté: Jessica Medeiros (discente FACTUR-UFPA).
Entrevista com moradores locais: Marcos André Costa (discente FACTUR-UFPA).
Imagens restantes: Maykon Serrão.









2 comentários:

  1. Falar de Bragança é sempre uma emoção a parte, principalmente aqueles que como nós lutamos por uma Bragança sempre mais ecologicamente correta, na busca de uma cidade não só linda, mas em harmonia, natureza e ser humano, ótimo texto, Parabéns pelo trabalho.
    Pousada Aruans.

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    1. Com certeza! Bragança tem tudo para despontar. História, natureza, povo acolhedor, tradição. Penso que os paraenses devem conhecer a cidade alem do carnaval e do mês de julho e ver de perto as maravilhas que ela oferece. Foi amor à primeira vista pela cidade e tudo que há nela heheh! Obrigado pelos elogios e visite-nos sempre. Em julho vamos publicar sobre os 400 anos da Pérola do Caeté. Aguarde!

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