sábado, 9 de junho de 2012

Floresta precisa agregar mais valor.


Um ouriço de castanha-do-Pará costuma ser vendido pelos extrativistas por R$ 0,80. O litro do óleo da castanha, um produto já industrializado, custa algo em torno de R$ 40,00. A renda gerada pelo produto florestal é grande, mas pouco se sabia até então a respeito de qual era o valor pelo menos aproximado disso. É o que pretende mostrar o estudo “Cadeias de Comercialização de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM)”, desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp), com a parceria do Instituto de Desenvolvimento Florestal do estado do Pará (Ideflor) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental, além de fundamento metodológico do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA).O estudo considera análises socioeconômicas das cadeias de comercialização dos PFNM para as Regiões de Integração do Baixo Amazonas, Guamá, Rio Caeté, Xingu e Marajó. “Os diagnósticos dos PFNM descortinam uma economia invisível até então, demonstrando que no seu entorno existe uma grande movimentação de mão-de-obra e geração de renda contribuindo para a valorização dos ativos florestais como alternativa sustentável ao desenvolvimento da região” analisa Cassiano Ribeiro, diretor de pesquisas socioeconômicas e análise conjuntural do Idesp.O trabalho mostra que os produtos florestais geram mais renda do que seria previsível supor e podem servir de guia para iniciativas do próprio governo estadual para valorização da floresta em pé. Os estudos identificaram, por exemplo, que na Região de Integração do Baixo Amazonas, o produto de destaque é a castanha-do-pará, que gerou uma renda bruta de R$ 71 milhões, sendo que 67% desse valor circulou fora do Estado. Na Região de Integração do Guamá, o destaque ficou com o açaí, com 85% da renda bruta de R$ 88 milhões circulando dentro do Pará. O produto também se sobressaiu nas Regiões de Integração do Marajó e no Rio Caeté, gerando R$ 690 milhões com 52% circulando na região e 16 milhões com 27% circulando fora do Estado respectivamente. No Xingu, o cacau amêndoa é o principal produto, gerando R$ 1,54 bilhão com 52% circulados fora do Pará.Região de Integração é a forma com que o governo paraense dividiu o estado para melhor fazer estudos e análises. Os relatórios permitem identificar possibilidades produtivas locais e regionais, entraves tecnológicos, necessidades de investimentos (curto e longo prazo), regularização e especialização dos agentes locais/regionais, além de apontar produtos que não constam das estatísticas oficiais ou que são subestimados e dar recomendações para melhorar a cadeia produtiva e ampliar a geração de renda. “Esses estudos têm uma função que é a de tirar da invisibilidade o que produzem o que chamamos de povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares”, diz Edson Barbosa, gerente de promoção da economia do Ideflor. “São povos que sobrevivem da floresta há muito tempo, mas sempre se diz que a floresta não tem preço. Buscamos saber então qual o valor dela”, diz.Na pesquisa, feita em campo pelo IDESP, buscou-se a cadeia de comercialização dos produtos. A pergunta básica era: ‘pra quem tu vendes? De quem tu compras?”. Com base nas respostas os pesquisadores iam atrás das duas pontas da cadeia produtiva. “É uma informação preciosa”, diz Barbosa. “Um exemplo é o açaí do Marajó. Ele vai para diversas regiões. Em Castanhal ele é processado e exportado para outros estados. Só nesse âmbito, ele chega a gerar uma renda de quase R$ 700 milhões. Bate a estatística do IBGE que estima para todo o estado uma renda de R$ 200 milhões”. Segundo Ribeiro, o diagnóstico permite ainda uma análise regionalizada sobre a importância dos produtos florestais. Alguns produtos apresentam importância somente em escala local, como os fitoterápicos, artesanatos e óleos. São produtos que geralmente tem como principal canal de escoamento as feiras interioranas nos municípios. Já produtos como o açaí e a castanha adquirem expressão estadual, nacional e até mesmo internacional e exigem canais mais sofisticados de transformação e comercialização.Os resultados obtidos vão subsidiar o Ideflor em ações que visam o fortalecimento das cadeias desses produtos. “Dentro da estratégia do Ideflor de recuperação de áreas alteradas e reflorestamento pautado em Sistemas Agroflorestais – SAF, o estudo de não madeireiros dá embasamento para que possamos discutir junto aos comunitários quais serão as espécies com fins comerciais que poderão ser inseridas nas ações”, diz Barbosa.



Fonte: DOL - Diário do Pará
Publicado em: 07 jun 2012


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